09 junho, 2009

Intoxicação digitálica

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O digital é uma das drogas mais freqüentemente prescritas na prática clínica. Por sua capacidade de aumentar a força de contração cardíaca, é usada no controle de taquicardias supraventriculares e no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. A digoxina é a preparação de digital mais usada. Tem uma meia-vida de 24 a 48 horas (com uma média de 35 horas). Como a digoxina é eliminada principalmente por meio de excreção renal, os pacientes com função renal reduzida apresentam meia-vida sérica mais longa.

A digoxina deve ser avaliada até que o efeito terapêutico seja alcançado, no acompanhamento da estabilidade e no uso adequado da droga pelo paciente e ao primeiro sinal de aparecimento de efeito tóxico (como anorexia ou arritmia).

A dosagem em crianças é aproximadamente 50% maior do que a usada em adultos, quando calculada em miligramas por quilograma de peso corporal. Doses mais altas são necessárias por causa da maior relação de massa cardíaca com a massa corporal em crianças. Essas doses mais altas se refletem em concentrações séricas mais altas em crianças.

A intoxicação digitálica acontece com freqüência, já que o intervalo entre os níveis terapêuticos e tóxicos é muito pequeno. Os sintomas clínicos mais comuns de superdosagem são anorexia, náusea e vômitos, visão embaçada e desorientação. A manifestação miocárdica mais importante e comum da intoxicação digitálica é a arritmia cardíaca. Freqüentemente, o diagnóstico clínico de intoxicação digitálica torna-se difícil em pacientes com patologias cardíacas graves, pois a maioria das manifestações pode ser causada pela doença ou por drogas. Por isso, a dosagem de digoxina sérica é especialmente útil na interpretação de arritmias.

As maiores causas de intoxicação digitálica são a depleção de potássio e a diminuição da função renal com a idade. Alterações da função renal, hipercalcemia, alcalose, mixedema, hipomagnesemia, infarto do miocárdio recente, hipóxia e hipocalemia podem aumentar a sensibilidade aos efeitos tóxicos da digoxina. O uso de drogas como quinidina, verapamil, amiodarona, ciclosporina, espironolactona, entre outras, pode aumentar os níveis séricos por diminuição do clearance da digoxina.

Quando diante de níveis séricos abaixo do esperado, deve-se avaliar a presença de doença tireoidiana, má absorção, diminuição do fluxo sangüíneo intestinal por arteriosclerose mesentérica e uso de drogas como laxantes, antiácidos, fenitoína, neomicina e metoclopramida, que podem diminuir a absorção. Outro dado a ser avaliado é o nível de adesão do paciente ao tratamento, tanto na freqüência quanto nas doses prescritas.

O tempo de coleta da amostra é um fator importante na determinação dos níveis séricos da digoxina. Os níveis séricos se elevam nitidamente durante a primeira hora depois de uma dose oral. Isso é seguido por uma diminuição quando a digoxina é levada para o miocárdio e outros tecidos. Normalmente, para absorção e armazenamento, quando administrada por via oral, são necessárias de 4 a 6 horas, e, por via endovenosa, cerca de 30 minutos. Depois disso, os níveis de digoxina no soro tendem a se estabilizar, passando a diminuir muito lentamente durante as 24 a 48 horas seguintes.

Não é possível determinar com precisão os níveis de digoxina em pacientes em fase de troca de terapia de digitoxina para terapia com digoxina, visto que ambas as drogas podem estar presentes no soro. Os anticorpos antidigoxina usados na maioria dos testes comerciais para dosagem de digoxina apresentam reação cruzada significativa com digitoxina (2% a 6% de reação cruzada, com alguns casos que chegam a 40%) e outros digitálicos. O problema da reação cruzada é exacerbado pelo fato de que níveis terapêuticos de digitoxina são aproximadamente 10 vezes mais altos do que os da digoxina. O anticorpo antidigitoxina também apresenta reação cruzada com digoxina (2% a 4% de reação cruzada), mas, por causa dos níveis terapêuticos mais altos, a interferência da digoxina é menos importante na dosagem de digitoxina.

Obtém-se a maior precisão diagnóstica coletando a amostra de sangue em um momento padronizado durante a fase estável, quando os níveis de digoxina no soro refletem as concentrações cardíacas usuais. Normalmente, o equilíbrio é alcançado num prazo de cerca de 5 dias, e a coleta é realizada imediatamente antes da próxima dose, ou a qualquer momento, quando da suspeita de intoxicação.